É muito comum ouvir criticas negativas que num prédio ninguém se conhece, “…como pode, tantas pessoas morar nesse prédio e ninguém se conhecer!…”, entre outras pérolas, pergunta-se:
– Sou mesmo obrigado a bater em todas as portas do prédio em que moro e me apresentar aos meus vizinhos? Já pensou? A gente se encontrar tranquilo no aconchego do lar e setenta e tantas pessoas tocando a campainha e se apresentado:
– Oi! Eu sou o Fulano, morador do 306! Como é seu nome? Vamos confraternizar? Tem comida aí?
Pergunto se numa rua o procedimento é o mesmo. Será que cada morador vai à casa de seus vizinhos e se apresenta?
Moro num prédio sem elevador; meus vizinhos, ao sair, quando escutam o barulho de porta retornam ao apartamento para não serem obrigados a me encontrar na escada. Devo chamá-los para um churrasco no pilotis do prédio?
A modernidade não permite a confraternização entre vizinhos. Saímos cedo para trabalhar e retornamos tarde para casa; passamos a maior parte do tempo no escritório e outra parte do tempo, no quarto das nossas casas tentando relaxar e descansar. Portanto, vem a dúvida: será que não dá para trabalhar no quarto? Ou morar no trabalho? Ajudaria muito a conciliar o relacionamento casa e trabalho.
Acho muito engraçado as pessoas passarem muito tempo no Face ou no Zap dando bom dia para todos, desejando boa noite, postando a comida do almoço, mas são incapazes de puxar assunto com seus vizinhos, se encontram no elevador e com um obrigatório e curto “oi” encerram o quase diálogo que se torna incomodamente prolongado pelo infeliz do elevador que nunca chega ao andar desejado.
Coletividade é sinônimo de problema de relacionamento, não tem jeito. Conheço uma pessoa que mora em casa para não ter que ir à reunião de condomínio. Segundo ela, é a obrigação mais penosa dos deveres da cidadania, “… junta um bando de gente que não se entende para debater assuntos que não entende…”, é a definição mais hilária que já conheci.
Depois que inventaram as paredes ficou mais fácil se confinar e buscar a tão sonhada privacidade, porém, esquecemos que devemos nos socializar, também, no lugar em que moramos, não somente no ambiente de trabalho ou na “balada”.
Outro fator importante para a boa convivência é o silêncio. Muitos acham que podem fazer barulho até as 22 horas e pouco barulho após este horário. Enganam-se. O volume de qualquer atividade tem que ser moderado e aceitável até as 22 horas; após esse horário o ruído tem ser em nível zero, vide artigo 42 da Lei de Contravenções Penais.
O barulho ou ruído em exagero, em qualquer horário do dia, pode trazer consequências e sanções. Em todos os casos, existem exceções, como alarmes (sem prolongamento desnecessário), cultos ou sinos religiosos autorizados, eventos populares autorizados, manifestações pacíficas diurnas. No caso dos condomínios, há ainda outra opção: a regulamentação própria de uma lei do silêncio por meio do Regimento Interno e da Convenção.
Por meio desses instrumentos, os próprios condôminos podem definir como se devem comportar os moradores e os poderes do síndico para coibir os abusos, normalmente por aplicação de multas. Apesar de todo esse aparato judicial, também é importante pensar que independente do horário, devem ser observados o bom senso, a urbanidade e o respeito mútuo entre os vizinhos.
Mas não se incomodem com seus vizinhos misteriosos. As coisas fluem naturalmente. Não faltarão oportunidades de conhecê-los, seja numa reunião de condomínio, festa ou até mesmo numa reclamação. Dê ao seu vizinho uma oportunidade de ter sossego, tanto com o “… bater na porta e desejar bom dia…” como o aparelho de som em volume exagerado. Afinal, o sossego tem sido muito apreciado nos dias de hoje.
Alexandre São José | Arquiteto
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